Um dos principais vilões da narrativa de Araujo é Josélio de Barros Carneiro, descendente de uma família de criadores de gado do litoral sudeste do Espírito Santo. Em 1967, Josélio organizou o assassinato de um rival político, um major da polícia, em uma saraivada de balas com ponta de cianeto disparadas por três pistoleiros em um bar. Depois de cumprir vários anos de prisão, Josélio escapou de uma possível retaliação da família de sua vítima refugiando-se em Rondon do Pará, onde desmatou florestas e se tornou um dos fazendeiros mais ricos da região. De acordo com o depoimento de um trabalhador de uma das fazendas de Josélio, porém, ele não conseguiu abandonar seus hábitos assassinos. Em 1994, o trabalhador levou os investigadores a um campo repleto de restos humanos – supostamente um cemitério para trabalhadores que reclamaram de suas condições miseráveis de trabalho ou tentaram escapar e foram despachados por pistoleiros.
Os crimes aparentes de Josélio chamaram a atenção de José Dutra da Costa, conhecido como Dezinho, o carismático líder do sindicato dos trabalhadores rurais de Rondon do Pará, fundado em 1982 para ajudar camponeses a obter pensões e benefícios financeiros do governo. “Um baixinho barrigudo… de cabelo crespo cor de tinta e olhos pretos brilhantes”, Dezinho pressionou a polícia para investigar Josélio. (O caso acabou arquivado devido à falta de provas.) Inspirado pelo político progressista Luiz Inácio Lula da Silva, eleito para o Congresso do Brasil em 1986 – ele conquistaria a presidência, mais recentemente em outubro, sua segunda passagem pelo cargo – Dezinho se aprofundou no ativismo político. Ele chamou a atenção para o fazendeiros‘ prática de aquisição de terras por meio de escrituras fraudulentas, conhecidas como grilagem, derivado da palavra portuguesa para grilos, assim chamado porque os contratos falsos eram frequentemente envelhecidos artificialmente com os excrementos dos insetos. Para pressionar o governo a confiscar propriedades adquiridas ilegalmente, Dezinho organizou ocupações em massa das terras disputadas – uma estratégia que o colocou na mira dos senhores corruptos da região. Em novembro de 2000, um pistoleiro contratado o matou a tiros do lado de fora de sua casa.
O assassinato de Dezinho colocou sua viúva, Maria Joel Dias da Costa, em um papel de destaque no ativismo amazônico. Muito do restante da narrativa de Araujo é dedicado ao seu esforço de anos para levar os conspiradores à justiça. Além de suspeitar do envolvimento de Josélio, já na meia-idade, no crime, Maria Joel se concentrou em Décio José Barroso Nunes, o “Rei da Madeira”, cujo vasto império incluía plantações de madeira, fazendas de gado, serrarias, frotas de caminhões, supermercados e uma fábrica de processamento de café. Ele também era um suposto sonegador de impostos, comerciante de madeira do mercado negro e assassino que, segundo rumores, jogava trabalhadores intransigentes em uma piscina de crocodilos em seu rancho principal. A campanha implacável de Maria Joel, apoiada por um simpático detetive da polícia, ajudou a confiscar muitos dos bens de Nunes, mas juízes corruptos e outros protetores permitiram que ele escapasse da prisão.
Araujo tenta fortemente manter o ímpeto de sua narrativa, mas sua cavalgada de pistoleiros, vítimas camponesas, latifundiários gananciosos, advogados criminais, policiais e outros envolvidos na violência torna-se difícil de acompanhar, e muitas das histórias se confundem. . Além disso, a heroína do conto de Araujo, Maria Joel, nunca surge como uma protagonista plenamente realizada, muitas vezes dada a declarações de biscoito da sorte como: “A semente plantada nunca para de crescer e acaba dando frutos” e “Você deve se preocupar com a selva, mas nunca se esqueça de nós.”