Estou antecipando a coluna que normalmente sai às terças por uma boa causa: acaba de ser liberada pesquisa da Associação Americana do Coração (American Heart Association), publicada na revista “Hypertension”, mostrando que o hábito de tirar uma soneca está associado ao risco aumentado para hipertensão e acidentes vasculares encefálicos, conhecidos popularmente como derrames. Este é o primeiro estudo a usar não apenas informações sobre indivíduos acompanhados por um longo período, mas também um tipo de método chamado randomização mendeliana. Pausa para explicação: trata-se de uma análise na qual variantes genéticas, associadas a uma determinada exposição – no caso, os cochilos – são utilizadas para investigar seu efeito sobre algum desfecho.
Pesquisa divulgada hoje pela Associação Americana do Coração alerta para possível relação entre o hábito de tirar uma soneca e o risco aumentado para hipertensão — Foto: Thomas H. para Pixabay
“Os resultados são especialmente importantes uma vez que milhões de pessoas adotam tal hábito”, afirmou o líder do trabalho, E Wang, médico e professor do hospital universitário da Central South University, na China, que está entre as 100 melhores instituições de ensino da medicina no mundo. Os pesquisadores usaram o UK Biobank, com informações de mais de 500 mil indivíduos entre 40 e 69 anos que fornecem amostras de sangue, urina e saliva. Além dos dados genéticos e de saúde, todos respondem a questionários detalhados sobre seu estilo de vida.
Entre 2006 e 2019, foram realizados quatro levantamentos sobre cochilos ao longo do dia. Excluídos os registros dos que já apresentavam um quadro de hipertensão e/ou haviam sofrido um derrame, sobraram 360 mil perfis para serem analisados. Os pesquisadores procuravam uma associação entre o costume de dormir durante o dia e o primeiro relato dos problemas de saúde citados. Com este objetivo, criaram três conjuntos relacionados ao hábito: nunca ou raramente; às vezes; e com frequência. Três quartos dos participantes se mantiveram na mesma categoria. O que o estudo mostrou:
- Um maior percentual de pessoas que tiravam um cochilo era composto de homens de menor grau de instrução e renda que também fumavam, bebiam durante o dia, sofriam de insônia e roncavam.
- Se comparados com os que nunca tiravam uma soneca, os que tinham esse hábito apresentavam 12% mais chances de desenvolver um quadro de pressão alta e risco aumentado em 24% de sofrer um derrame.
- Aqueles com menos de 60 anos que dormiam durante o dia manifestavam 20% mais chances de sofrer de hipertensão, se comparados com os da mesma idade sem esse hábito. Depois dos 60, a soneca estava vinculada a um risco 10% maior de hipertensão em relação aos que nunca cochilavam.
- A randomização mendeliana mostrou que, entre uma categoria de frequência de sonecas para a outra, o risco crescia 40%. Quem cochilava mais tinha uma propensão genética atrelada à hipertensão.
“Embora tirar um cochilo não seja prejudicial, muita gente tem esse hábito por causa de dificuldades para dormir à noite, condição que está associada a um quadro pior de saúde. O estudo complementa outros achados que mostram que sonecas refletem um aumento de risco para problemas cardiovasculares”, afirmou Michael Grandner, professor da Universidade do Arizona, especialista em sono e coautor do guia “Life´s essential 8 cardiovascular health score” (“Oito métricas essenciais para a saúde cardiovascular”). Em junho, a Associação Americana do Coração adicionou o sono como o oitavo item para a pontuação que mede a saúde do coração e do cérebro.
Outra pesquisa liberada hoje acompanhou mais de 100 mil participantes durante 30 anos e reforça a relação entre um volume maior de atividade física e o aumento da expectativa de vida. A orientação atual da Associação Americana do Coração é de pelo menos 150 minutos de atividade aeróbica moderada por semana ou 75 minutos de intensidade vigorosa. Adultos que se exercitavam de duas a quatro vezes mais do que essa recomendação tinham uma redução entre 26% e 31% do risco de mortalidade em comparação com o padrão de 150 minutos de atividade moderada, e entre 21% e 23% em comparação com o padrão de intensidade vigorosa.