'Glass Onion' subverte reviravoltas de 'Entre facas e segredos' com Daniel Craig ainda melhor; g1 já viu


Ator retorna mais ácido e engraçado como detetive infalível em nova investigação com outro elenco estrelado. Continuação estreia nesta sexta-feira (23). Daniel Craig está de volta a um de seus melhores papéis e melhor do nunca. Não, não é James Bond. O ator de 54 anos deu o adeus definitivo ao espião, mas em “Glass Onion: Um mistério Knives Out” ele retorna ainda mais ácido e engraçado ao delicioso detetive Benoit Blanc.
A continuação de “Entre facas e segredos” (2019) estreia nesta sexta-feira (23) na Netflix sem infelizmente ter passado pelos cinemas brasileiros – ao contrário do que aconteceu nos Estados Unidos.
Uma pena. O novo mistério investigado pelo personagem criado pelo cineasta Rian Johnson (“Star Wars: Os últimos Jedi”), que também volta como diretor e roteirista, merecia pelo menos um tempo em exibição.
A sequência é ainda melhor do que o primeiro. Uma aventura recheada de humor, sarcasmo, suspense e, como já virou marca da série cinematográfica, estrelas.
E se o filme não tem um novo elenco – que conta com nomes como Edward Norton (“A crônica francesa”), Kate Hudson (“Como perder um homem em dez dias”) e Dave Bautista (“Guardiões da Galáxia”) – com encontros tão instigantes quanto o anterior, certamente compensa ao se beneficiar da existência do anterior, e subverter tudo o que já foi apresentado para manter o público mais uma vez sem a menor ideia do que vem a seguir.
‘Glass Onion: Um Mistério Knives Out’: assista ao trailer
O caso do bilionário idiota
“Glass Onion” é mais uma história de crime e intriga. Um grupo de amigos se reúne em uma ilha grega isolada de um deles, o bilionário moderninho interpretado por Norton.
Ambicioso e egocêntrico, o anfitrião contratou até uma famosa escritora de mistério para bolar uma investigação de mentira, na qual seus convidados devem descobrir quem o assassinou.
A brincadeira vai bem até que uma morte muito real acontece. Por sorte, entre eles há um desconhecido, o detetive com forte sotaque do sul dos Estados Unidos e de figurino kitsch vivido por Craig.
Edward Norton, Madelyn Cline, Kathryn Hahn, Dave Bautista, Leslie Odom Jr., Jessica Henwick, Kate Hudson, Janelle Monae e Daniel Craig em cena de ‘Glass Onion’
John Wilson/Netflix
Blanc, Benoit Blanc
O britânico deixa claro que ama o papel desde o começo. Sem a necessidade de reapresentar o personagem, mas com a chance de mostrar um pouco mais de sua vida pessoal, o ator consegue uma atuação ainda mais brilhante – que mostra o quanto ele se diverte com o papel.
Além do protagonista, o roteiro de Johnson é especialmente generoso com Janelle Monáe (“Estrelas além do tempo”). Com um dos arcos mais complexos, cujo risco de spoilers impede maiores detalhes, a cantora se aproveita bem da oportunidade de mostrar a amplitude de sua atuação.
Com ecos inevitáveis na atual onda de bilionários idiotas, a trama do diretor explora com habilidade e inteligência suas reviravoltas, e usa até da expectativa criada em quem se lembra bem de “Entre facas e segredos” para manter o público surpreso a cada revelação.
Se o filme de 2019 mostrava desenvoltura para subverter a estrutura a esta altura já previsível das idas e vindas de uma história de investigação, “Glass Onion” diverte por dar uma volta quase completa no que é esperado do gênero – criando algo quase inteiramente novo por consequência.
Janelle Monáe em cena de ‘Glass Onion’
John Wilson/Netflix
Mente de cebola
Com tanto para amarrar, no entanto, Johnson sofre para conseguir o mesmo espaço para todos, como havia feito há três anos. Alguns dos rostos menos conhecidos mas não menos talentosos como Kathryn Hahn (“WandaVision”) e Leslie Odom Jr. (“Hamilton”) com certeza mereciam um pouco mais da atenção da história.
Por outro lado, com ainda menos espaço no roteiro e relevância no mercado, Jessica Henwick (“Agente oculto”) repete o feito de “Matrix Resurrections” (2021) e se destaca mesmo com um papel menor. Quem sabe agora finalmente dão a devida importância à atriz de 30 anos.
“Glass Onion” no geral supera com destreza o desafio de toda continuação e consegue até, em grande parte do tempo, ser superior ao antecessor. Talvez por isso sua conclusão sofra em comparação direta.
Como um dos melhores contadores de histórias de sua geração aos 49 anos, Johnson já mostrou que prospera com gosto na quebra de expectativa. Foi assim nos geniais “A ponta de um crime” (2005) e “Looper” (2012).
Dessa vez, o diretor apresenta um final mais ao estilo de seu capítulo divisivo da nova trilogia de “Star Wars”, e vai de encontro direto com o que o espectador espera do gênero.
No fim, pode não ser algo tão satisfatório para quem está assistindo à primeira vista, mas em algum nível dá gosto de ver um criador sem medo de apresentar o que quer, e não aquilo que todos acham que querem. Alguém genuinamente e apaixonadamente disruptivo, o contrário de alguns bilionários idiotas por aí.
Kate Hudson, Leslie Odom Jr., Kathryn Hahn, Edward Norton, Jessica Henwick, Madelyn Cline e Dave Bautista em cena de ‘Glass Onion’
Divulgação

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