'Avatar: O Caminho da Água' é 2ª aventura deslumbrante mas sem graça de James Cameron; g1 já viu


Em continuação que estreia nesta quinta-feira (15), cineasta reforça conceito apresentado em blockbuster de 2009. Efeitos visuais incríveis contrastam com história insípida e pouco inspirada. “Avatar: O Caminho da Água” é uma jornada longa e exaustiva pela megalomania do diretor James Cameron (“Titanic”). Os efeitos visuais são deslumbrantes, mas, ao contrário do que aconteceu com o antecessor de 2009, não conseguem totalmente compensar uma trama sem graça ou inspiração.
O primeiro filme, a maior bilheteria da história, pode até dividir opiniões sobre sua qualidade geral. Mas quase todo mundo pelo menos aceita que ele foi responsável por uma profunda transformação no cinema, seja na explosão de projeções em 3D ou na computação gráfica em geral.
A continuação, que estreia nesta quinta-feira (15) nos cinemas brasileiros (com sessões de pré-lançamento nesta quarta), é um reflexo inferior do original – ou resultado de um excesso de confiança de seu criador, que já exibia impulsos megalomaníacos antes de arrecadar quase US$ 3 bilhões.
O avanço na área técnica é gritante, por mais que não repita a revolução apresentada há 13 anos. As criações alienígenas estão ainda mais realistas e impressionantes, e as cenas submersas fazem jus à paixão do cineasta pelo oceano.
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Assista ao trailer de ‘Avatar: O Caminho das Águas’
Já o roteiro consegue ser ainda mais trivial do que o infame mito do salvador branco de 2009. É um prazer enorme voltar ao rico mundo de Pandora. Infelizmente, a lua é de longe o personagem mais interessante ao longo das mais de três horas de duração do filme, recheado de heróis pouco desenvolvidos, vilões caricatos e decisões questionáveis.
Olá, Pandora, minha velha amiga
“O Caminho da Água” continua a acompanhar a vida do fuzileiro que virou espião que virou alienígena indígena que virou líder da resistência Jake Sully (Sam Worthington).
Mais de uma década depois de abandonar seu corpo terráqueo e adotar de vez a identidade esquia e azul dos Na’vi, o antigo soldado continua sua luta para proteger o clã adotivo e sua família.
Agora com quatro filhos com Neytiri (Zoe Saldaña), ele deixa a floresta para trás e busca refúgio com aliados que moram no oceano quando um antigo inimigo retorna em busca de vingança.
Bailey Bass, Zoe Saldaña, Jamie Flatters, Britain Dalton e Sam Worthington em cena de ‘Avatar: O Caminho da Água’
Divulgação
Ali no mar
Se o roteiro é insípido, há uma ironia no filme encontrar seus melhores momentos debaixo d’água. As cenas submersas são incríveis e perfeitas para retratar a evolução tecnológica por trás da produção.
É difícil precisar se a computação gráfica empregada é a única responsável por mitigar o desconforto da exibição em 3D ou se os projetores atuais ajudam, mas é notável a qualidade da imagem e da simulação da ação no oceano.
Se as matas de Pandora já eram um espetáculo, Cameron claramente guardou o melhor para seus oceanos.
Há uma sensação de familiaridade, é claro. Afinal, se trata da mesma lua que abrigou a aventura anterior. Mas só a visita às suas águas já quase justifica o valor dos ingressos.
Os Na’vi também se aproximam de forma clara de seres reais, e a tecnologia de captura de performance empregada pela produção traduz ainda mais a atuação de seu elenco.
Trinity Bliss em cena de ‘Avatar: O Caminho da Água’
Divulgação
Considerando a atenção aos detalhes tecnológicos da sequência, se torna ainda mais necessário destacar a escolha um tanto inexplicável pelo aumento da taxa de quadros por segundo da exibição.
Com o dobro do empregado em um filme comum, algumas cenas claramente construídas com computação gráfica atingem um estranho realismo que nunca se adapta totalmente aos olhos de uma audiência desacostumada à velocidade dos movimentos projetados.
A decisão talvez ajude a aprimorar as cenas no fundo do mar, mas faz com que muitos momentos na superfície tenham movimentos bizarros e fora do comum.
Perdido no caminho
Passado o assombro com as belíssimas paisagens apresentadas, sobra um roteiro que toma todas as decisões fáceis ou erradas.
A trama é assinada pelo diretor com outras duas pessoas, a partir de uma história criada pelo trio com mais outra dupla. Tantas mãos diferentes talvez expliquem a instabilidade da narrativa e a falta de qualquer complexidade maior dedicada aos personagens ou à mensagem ecológica que o filme busca passar.
“Avatar” já não era um primor nesse quesito, mas ao adotar o cansado mito do salvador branco, no qual um estrangeiro colonizador se sensibiliza com o sofrimento dos oprimidos e assume sua liderança, pelo menos tinha um começo, um meio e um fim.
“O Caminho da Água” pode ser uma continuação, mas sofre com o fato de ser, na verdade, a introdução a uma saga maior e ampla. Tal status traz consigo invariavelmente um desfecho menos grandioso, já que é necessário preparar o futuro da franquia.
Sigourney Weaver em cena de ‘Avatar: O Caminho da Água’
Divulgação
Quem dera, no entanto, fosse este o único problema. A atuação de Saldaña (“Guardiões da Galáxia”) era uma das melhores coisas do antecessor. Na sequência, a participação de sua personagem é tão limitada que é fácil esquecer que a atriz sequer está no elenco.
Sua ausência pelo menos é balanceada com o aumento da presença de Sigourney Weaver (“Alien – O 8º passageiro”). Aos 73 anos, a atriz mostra por que é uma das rainhas da ficção científica ao voltar à franquia e assumir o papel de uma pré-adolescente Na’vi no centro da trama.
Cameron sem freio
Mas nem Weaver consegue salvar uma trama com personagens erráticos, que tomam decisões sem sentido e contrárias às suas próprias naturezas ou ao fluxo da história apenas para que ela avance. Ou então justificar o retorno de um vilão (Stephen Lang) que já não era dos melhores, mas que se torna ainda mais caricato.
“O Caminho da Água” parece acreditar que legados (tanto no passado quanto para o futuro) constroem bons conflitos e esquece de – ou tem preguiça demais para – apresentar suas próprias motivações.
No fim, ainda há cenas inteiras tão exageradas que não apenas não justificam três horas de duração, mas também são tão ridículas que afastam o público da batalha final.
A vingança precisa e elaborada de um ser marinho gigante e muito inteligente, em especial, é tão simplória que arranca gargalhadas em um momento que deveria ser de tensão.
Stephen Lang em cena de ‘Avatar: O Caminho da Água’
Divulgação
Em 2009, era difícil prever que “Avatar” se tornaria o fenômeno pop que é até hoje. O destino de sua sequência – e as outras três continuações planejadas por Cameron – é ainda mais incerto.
Talvez um pequeno tropeço seja exatamente o que o diretor precisa para colocar sua franquia de volta nos eixos.
Afinal, ninguém duvida da genialidade do criador de clássicos como “Titanic” (1997), “Aliens, o resgate” (1986) e os dois primeiros “O Exterminador do Futuro”, além da maior bilheteria de todos os tempos.
Mas talvez um pouco de freio para seus impulsos mais megalomaníacos ajude Pandora, Jake e os resto dos Na’vi.

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