É tudo muito rápido: uma sensação de mal-estar, enjoo, tontura, vista embaçada e, de repente, um apagão. A síncope é uma perda transitória da consciência e, na maioria dos casos, trata-se de uma condição benigna, mas não deve ser subestimada. Apesar de poder ocorrer em qualquer idade, idosos estão mais sujeitos ao problema, como explica a cardiologista Amanda Bomfim, médica do Instituto Nacional de Cardiologia, com quem conversei sobre o assunto.
A cardiologista Amanda Bomfim: comorbidades e o uso de medicamentos são fatores de risco para a ocorrência de síncope — Foto: Divulgação
O que é a síncope e como ela se manifesta? No que difere da lipotimia?
A síncope é definida como uma perda transitória da consciência e tem diversas causas. Os primeiros sinais são fraqueza, transpiração, palidez, calor, náusea, tontura, borramento visual, desequilíbrio. Ocorre de maneira súbita, mas normalmente tem recuperação rápida. A lipotimia, que hoje chamamos de pré-síncope, seria o que é popularmente conhecido com sensação de desmaio. Também pode haver perda do tônus postural, sensação de fraqueza, tonteira e visão em túnel (perda da visão periférica), mas não há perda da consciência.
Quais são as primeiras providências a serem tomadas quando ocorre?
Deve-se manter o paciente deitado, de barriga para cima, e aguardar para mudá-lo de posição porque, se houver uma tentativa de sentar ou levantar a pessoa logo, pode ocorrer nova síncope. A recuperação costuma ser rápida e espontânea, mas é importante prestar atenção nos sintomas, na duração, como aconteceu – é preciso procurar atendimento médico e o relato detalhado é fundamental para o diagnóstico.
Por que os idosos são mais sujeitos a esta condição? Está relacionada a comorbidades e ao uso de medicamentos?
Nos idosos é mais prevalente uma condição chamada hipotensão ortostática, que é a queda da pressão quando há mudança da posição deitada para de pé. Isso pode ser exacerbado e levar à síncope. Idosos também bebem pouca água e estão sujeitos à desidratação, condição que contribui para o problema. Comorbidades e o uso de medicamentos são outros fatores de risco. A polifarmácia, com medicações para hipertensão, hiperplasia prostática ou diuréticos, colabora para um quadro de síncope.
Que cuidados devem ser tomados para evitar que aconteça? Pode se tornar recorrente, deixar sequelas ou representar risco de morte?
O primeiro passo é identificar a causa, para que seja proposto o tratamento. A mais comum é a chamada síndrome vasovagal, a perda transitória de consciência provocada pela diminuição da pressão arterial e dos batimentos cardíacos por ação do nervo vago, localizado na região da nuca. É causada por situações que provocam queda da pressão e/ou da frequência cardíaca, como ficar em pé por muito tempo em dias quentes. Mesmo se for recorrente, costuma responder a medidas não farmacológicas, hidratação, educação postural e meias de compressão elástica. Quando isso não é suficiente, podemos associar medicação oral para controle dos sintomas. Em pacientes com doenças cardíacas, a síncope pode representar alguma condição com risco de morte. Nesse grupo, o diagnóstico é fundamental.
Tem alguma relação com o infarto ou com o acidente vascular encefálico?
Não há uma relação direta. A síncope pode estar presente nesses casos, mas é mais como um sintoma, e não como causa direta.