RIO DE JANEIRO — Por mais de um ano, o presidente Jair Bolsonaro do Brasil advertiu que ele pode não aceitar uma perda nas eleições presidenciais do mês passado. Então ele perdeu. Em resposta, ele concordou relutantemente para iniciar a transição de poder – enquanto seus aliados inspecionavam os resultados das eleições em busca de evidências de algo errado.
Agora sua campanha afirma tê-lo encontrado: um pequeno bug de software nas máquinas de votação. Nesta semana, sua campanha entrou com um pedido para efetivamente anular a eleição em favor de Bolsonaro, dizendo que o bug deveria anular os votos de cerca de 60% das urnas.
Dos votos restantes, Bolsonaro ganharia 51%, disse a campanha, tornando-o o vencedor em vez de o ex-presidente esquerdista que o derrotouLuiz Inácio Lula da Silva.
O pedido é uma Ave Maria, com pouca base técnica e poucas chances de sucesso. Especialistas independentes dizem que o bug não teve impacto na integridade da votação. E as autoridades eleitorais sinalizaram que quase certamente descartariam as alegações da campanha.
Em resposta ao pedido na terça-feira, o chefe das eleições do Brasil deu à campanha 24 horas para explicar por que questionou apenas os votos do segundo turno da eleição, em que Bolsonaro perdeu, e não do primeiro turno, em que seu partido político venceu a eleição. a maioria dos assentos no Congresso usando as mesmas máquinas de votação. O chefe do partido de Bolsonaro disse na quarta-feira que não tinha informações sobre o primeiro turno.
Em cima da hora na tarde de quarta-feira, o partido de direita Liberais de Bolsonaro convocou repórteres para um hotel em Brasília, a capital do país, para explicar suas descobertas.
Valdemar Costa Neto, presidente do partido, disse que o bug do software exigia uma revisão dos resultados da eleição. “Não pode haver dúvidas sobre a votação”, disse ele. “Se isso é uma mancha em nossa democracia, temos que resolvê-la agora.”
O bug de software destacado pela campanha de Bolsonaro causa um erro em um documento produzido por algumas urnas mais antigas. O erro afeta o número de identificação conectado à urna eletrônica. Funcionários do Partido Liberal argumentaram que isso dificultou a verificação dos votos.
Especialistas independentes em segurança de computadores que estudaram as máquinas de votação do Brasil e revisaram as descobertas da campanha disseram que isso estava errado. Eles disseram que, embora o bug exista, ele não afeta a integridade dos resultados. Isso porque existem diversas outras formas de identificar as urnas, inclusive nos próprios documentos que apresentam o erro.
“Eles apontaram um bug que precisa ser corrigido. Isso é ótimo e fácil de corrigir”, disse Marcos Simplício, pesquisador de segurança cibernética da Universidade de São Paulo. Mas ele disse que a sugestão da campanha de que os votos deveriam ser anulados é como argumentar que um carro foi destruído por causa de um arranhão na porta.
“Tente convencer sua companhia de seguros disso”, disse ele. “É um absurdo. Um absurdo completo.